sábado, 26 de dezembro de 2009

7 ideias para fazer uma família feliz








Mais que a pressa, o cansaço ou a impaciência, é na corrida pela perfeição que está o problema.


Não há famílias perfeitas, diz Marta Gautier.




E não há nada de errado nisso.


E se alguém lhe segredasse ao ouvido que a zanga de ontem com o seu filho - depois de ter jurado a si própria que o serão ia ser calmo e não lhe ia gritar outra vez - não faz mal? Nem é assim tão grave servir batatas fritas de pacote ao jantar, de vez em quando, em vez dos saudáveis brócolos que devia ter tempo para comprar logo de manhã, antes de ir para o emprego? Ou que as unhas por arranjar (quando sabe que todas as mulheres que se cuidam as têm perfeitas) são, na maior parte das vezes, apenas o preço a pagar pela falta de tempo, entre levar filhos à escola, chegar a tempo ao escritório e ainda garantir que a roupa está passada a ferro?

A boa notícia é que esse segredo libertador foi revelado e está disponível em forma de livro. Chama-se "Não Há Famílias Perfeitas", tem autoria de Marta Gautier, e lá dentro encontra testemunhos com estes pequenos/ grandes dramas familiares, desabafos de mulheres a braços com a missão impossível (quase sempre auto-imposta) de serem perfeitas a tempo inteiro, como mulheres, como mães, como donas de casa, em todas as situações do seu dia-a-dia, sem mostrarem sinais de cansaço.

O livro demorou dois anos a ser escrito, mas há já quatro que a psicóloga o tinha na cabeça, fruto das muitas histórias de vida que lhe vão desaguando no consultório. "Pensei em várias hipóteses, desde escrever um manual, a misturar testemunhos com conceitos e conselhos mais técnicos." Acabou por publicá-lo apenas com um conjunto de pequenos episódios escritos na primeira pessoa. Casos ficcionados a partir de relatos reais, na "esperança de que, identificando-se com o que lêem, as mulheres possam perceber que esta pressão não lhes acontece só a elas e, assim, consigam sair da solidão extrema em que acabam por cair quando vivem obcecadas com a perfeição", explica Marta Gautier.

De perto ninguém é normal

É preciso que as mulheres relaxem, insiste a autora, e tomem consciência de que o caos e a desordem são pratos do dia em qualquer casa. "Visto de perto, ninguém é normal, mas as pessoas tendem a esquecê-lo. Quando o descobrem ficam menos deprimidas, mais descansadas. Surpreendentemente as coisas acabam por melhorar naturalmente", garante a psicóloga clínica, muito procurada para prestar apoio na área das Competências Parentais.

Apetece perguntar porque é que, numa época de tanta informação, as mulheres parecem ignorar todas as evidências e insistir em tantos "equívocos", como lhes chama a autora.

"No fundo, a realidade das mulheres trabalharem fora de casa e tão afincadamente é um fenómeno recente. É um novo mundo e as mulheres estão a adaptar-se. Estão enganadas. Ainda acham que têm de conseguir fazer tudo. E fazer bem, o que só lhes aumenta o sentimento de culpabilidade quando não o conseguem", conclui Marta Gautier.

Na lista dos enganos, que se instalam e vão agravando as relações familiares, a autora refere a maneira como são encaradas as crianças: "É um facto que elas se adaptam facilmente. Os bebés já viveram na barriga das mães e experimentaram as suas ansiedades, Vêm preparados para viver ao seu ritmo. Os filhos não são 'bonsais', não vivem numa dimensão à parte. Se assumirmos com naturalidade as nossas circunstâncias - sejam elas quais forem - a criança perceberá que é esse o seu habitat e saberá viver nele." Só conseguimos chegar a casa às 20h? Não conseguimos nunca ser nós a ir buscá-lo à creche? Tudo bem, isso não tem de nos fazer mal, se o aceitarmos como a nossa realidade.

"Há o ideal e há o possível", diz a psicóloga, para acrescentar: "É preciso aceitar o possível, sem dramatizar."

No caso das mulheres que se queixam de ter tudo a seu cargo, acontece outra coisa. "Muitas vezes foram elas que chamaram a si o controlo total. Criaram esse padrão, não contando com os companheiros, e depois lamentam ter à sua responsabilidade todas as tarefas, sentem-se sozinhas", explica. A solução? Assumir que não conseguem, ponto. Libertarem-se desse peso e partirem para a mudança.

Outro equívoco grave, segundo a psicóloga, prende-se com o abandono a que se remeteu o instinto. Na voragem de "uma indústria que parece obcecada em ensinar-nos como devemos estar com os nossos filhos, a que horas temos de deitá-los, que brincadeiras podemos fazer e quando, tornamos complicadas coisas que podem ser simples". Ou seja, há momentos em que é preferível esquecer a preocupação das pedagogias e ser mais autêntico. "As crianças sabem. Não vale a pena fazer fretes, fingir que está tudo bem, seguir as regras todas dos livros, quando na verdade não é isso que nos apetece."

Somos todos paradoxos Com "Não Há Famílias Perfeitas", Marta Gautier gostaria de abrir uma porta, essencialmente, de alívio. Se há coisas que as pessoas, e em especial as mulheres, se envergonham de dizer - "que não gostaram de estar grávidas, ou que há momentos em que até parece que não gostam dos filhos, por exemplo" -, o primeiro passo para que tais pensamentos percam peso é serem verbalizados. Assim perceberão "que nós somos todos paradoxos". Podemos gostar dos filhos e estar fartas deles às vezes, podemos ralhar-lhes sem que isso signifique não lhes ter amor.

Não se esperem lições. A ausência no livro da palavra oficial da psicóloga foi assumida, para fugir à criação de mais regras e conceitos estanques. "Se for mesmo preciso encontrar uma definição para a palavra 'normal' pode ser 'nós sermos parecidos connosco próprios'", diz Marta Gautier.

Num dos capítulos do livro, Ema diz assim: "Não me apetece que os meus filhos me peçam para ficar mais um bocadinho, dar um beijo de boa noite, tapá-los. Não me apetece ver o telejornal, ou falar sobre actualidades, ou fazer amor, ou ter companhia (...) ou combinar o dia de amanhã. Posso tomar banho, comer uma papa e organizar os meus brincos por cores?"

E porque não?


7 IDEIAS PARA LHE MUDAR A VIDA


A MUDANÇA pode começar por coisas simples.
Como as que a psicóloga Marta Gautier sugere:



1. Desligue o telemóvel durante uma ou duas horas quando chega a casa. Ao fim do dia é muito enervante estar a descansar, ou em trabalho doméstico, e a falar com pessoas ao mesmo tempo.

2. Se estiver cansada para preparar o jantar ou nem sequer tiver pachorra para aquecê-lo, sem remorsos, naquele dia dê papa aos seus filhos.

3. Se um dos seus filhos estiver numa fase de birras ou especialmente chato e carente, dedique-lhe (só a ele) 10/15 minutos por dia. Fiquem no quarto dele, vão comer um bolo a uma pastelaria ou qualquer coisa que ele escolha. Nesse tempo deixe que seja o seu filho a escolher as actividades e não aproveite para ser didáctico, dar sermões ou ser pedagógico. Quando as crianças têm a certeza que vão ter uma atenção exclusiva, relaxam e não sentem necessidade de estar sempre a chamar a atenção.

4. Faça as coisas com tempo. Acorde 20 min. antes do que é preciso e saia para os compromissos um pouco antes do que pensa que seria necessário. Estar sempre em cima da hora pode ser terrivelmente stressante.

5. Com os dias da semana e as horas, faça um plano de rotinas e ponha-o na porta do frigorífico. É preferível que cada um saiba com o que contar do que andar todos os dias a dizer 'faz isto' e 'faz aquilo' porque parece que estamos a pedir! Lá devem estar as 'obrigações' de cada um: mãe, pai e filhos. Cada criança deve ter um dever, nem que seja levantar os copos da mesa. Isso fá-las sentir parte integrante e necessárias para a família.

6. Nunca pense que pode estar com crianças pequenas (acordadas) e ao mesmo tempo acabar um trabalho no computador ou ler um livro. São tentativas sempre enervantes porque acabam invariavelmente frustradas.

7. Com desenhos tirados da Internet, cole no quarto dos seus filhos a sequência das actividades da manhã e da noite. Por exemplo: vestir, tomar o pequeno-almoço, lavar os dentes e as mãos, etc. Assim, evita andar sempre atrás deles a lembrar o que têm de fazer e fica com mais tempo para si.

(Texto publicado na Revista Única da edição do Expresso de 28 de Novembro de 2009)
Mafalda Ganhão (www.expresso.pt) - http://aeiou.expresso.pt/7-ideias-para-fazer-uma-familia-feliz=f549732
16:43 Quinta-feira, 26 de Nov de 2009

Sem comentários:

Enviar um comentário