sábado, 26 de dezembro de 2009

De bom este ano...Portuguesa nomeada para mulher do ano no Dubai

in 28/10/2009 actualizado às 12:56

Portuguesa nomeada para mulher do ano no Dubai

Maria da Conceição, assistente de bordo da Emirate Airlines, tem mudado a vida de centenas de crianças no Bangladesh. Conheça a história do Anjo de Daca. (Veja o vídeo no final do artigo). Nelson Marques




Louca, ingénua e com mau feitio, garantirão alguns. Firme, persistente e empreendedora, contraporão outros. Maria Conceição, 32 anos, não é uma mulher de definição fácil.

Portuguesa a viver no Dubai, onde trabalha como assistente de bordo da Emirates Airlines, tem sido comparada à Madre Teresa de Calcutá, associação que ela recusa com realista modéstia. Talvez a imagem que melhor a defina seja a de um ciclone que agitou consciências e sacudiu centenas de vidas no Bangladesh, um dos estados mais pobres do mundo.

Há quatro anos, depois de uma escala de 24 horas no país, decidiu criar uma obra de solidariedade com o objectivo de dar educação, alimentação, cuidados de saúde e apoio comunitário a mais de meio milhar de crianças carenciadas de um subúrbio de Daca, a capital do Bangladesh.

O reconhecimento desse trabalho valeu-lhe agora a nomeação para o Prémio Mulher do Ano dos Emirados Árabes Unidos (EAU), na categoria de Acção Humanitária, que poderá vir a receber no próximo dia 17 de Novembro.





Maria e algumas das crianças apoiadas pelo Dhaka Project, criado em 2005




Miséria humana chocante

Quebrar o ciclo da pobreza. Um desígnio nobre mas uma missão impossível para uma mulher só. Sobretudo num país maioritariamente muçulmano, onde o papel da mulher é desvalorizado. Ainda mais onde os índices de corrupção não ficam a dever aos de pobreza.

Maria Conceição, contudo, está disposta a fazer a sua parte para concretizar este sonho quimérico de desafiar o destino. Uma criança de cada vez. Foi por isso que criou o Dhaka Project, meses depois de, em Abril de 2005, ter aterrado pela primeira vez em Daca e ter regressado ao Dubai chocada com a miséria humana que lá encontrou.

Devido à iniciativa, mais de meio milhar de crianças da comunidade de Gawair, nos arredores de Daca, têm direito a uma segunda oportunidade de vida. Ali, onde meio milhão de pessoas tenta sobreviver com menos de um euro por dia, quase 600 crianças vão à escola, recebem livros, uniformes, duas refeições diárias e cuidados de saúde.

Graças à jovem portuguesa e aos donativos das pessoas que têm apoiado o projecto, centenas de crianças receberam vacinas que, por serem tão caras para a realidade do país, lhes estariam vedadas.

Um oásis de esperança

Um autêntico oásis erigido numa comunidade deserta de esperança. Um anjo caído literalmente dos céus para transformar a vida de centenas de famílias. Não são apenas os mais novos os beneficiados por este sopro de vida. Também os pais, em muitos casos, recebem formação profissional em diferentes ofícios para lhes permitir, mais tarde, procurar um emprego.

Em alguns casos, o sucesso é evidente: algumas das mulheres que receberam formação no salão de beleza criado por Maria Conceição conseguiram emprego em Daca. Alguns homens conseguiram emigrar para o Dubai. Um novo mundo, a quatro horas de voo de distância. O salto para uma vida melhor.

Gawair é o espelho da extrema pobreza em que vive o Bangladesh: o oitavo país mais populoso do mundo (150 milhões de habitantes atropelam-se numa área geográfica pouco maior que Portugal) apresenta, segundo a Unicef, uma das maiores taxas de desnutrição do planeta.






Quebrar o ciclo de pobreza não é fácil, admite Maria Conceição



Abaixo do limiar de pobreza

Mesmo com o esforço de Muhammad Yunus, o mentor do micro-crédito e prémio Nobel da Paz em 2006, e das cerca de duzentas mil ONG a actuar no terreno, mais de 60 milhões de pessoas vivem ainda abaixo do limiar da pobreza.

"Quebrar o ciclo de pobreza não é fácil", admite Maria Conceição. Não basta ser idealista. Mais do que intuição, mais do que capacidade de mobilizar os outros, é preciso uma grande dose de persistência para ultrapassar os obstáculos, muitas vezes levantados pelas próprias autoridades do país.

"Nunca tivemos qualquer apoio. Pelo contrário, sempre pareceram dificultar a nossa presença. Até os meus vistos são muito difíceis de conseguir", explica a jovem portuguesa, que durante muito tempo pagou, com o seu ordenado de assistente de bordo (cerca de 2000 euros), a mais de meia centena de funcionários do Dhaka Project.



Novo desafio

No final do ano passado, com o projecto em velocidade de cruzeiro, um patrocínio da Emirates Foundation para os próximos cinco anos e um importante apoio negociado com a Dubai Cares, Maria Conceição entregou o Dhaka Project à Rural Services Foundation, uma organização local, que o gere desde então.






A nova aventura solidária de Maria, a funcionar em Gawair desde o final de Julho, chama-se Catalyst



A decisão - provocada por algum desgaste com os obstáculos que o projecto teve muitas vezes que enfrentar mas facilitada pela estabilização da iniciativa - não significou, contudo, um adeus a Daca.

A nova aventura solidária de Maria, a funcionar em Gawair desde o final de Julho, chama-se Catalyst. Também aqui a educação é a trave-mestra do projecto, só que os destinatários são, agora, os adultos. Numa abordagem inovadora, são as próprias crianças que, juntamente com dois professores e mediante uma quantia simbólica (cinco euros/mês), ensinam Inglês aos pais.

O Catalyst dá ainda seguimento ao projecto "Let's Clean Bangladesh" (Vamos limpar o Bangladesh) que tinha sido, entretanto, abandonado pelo Dhaka Project.



Distinção em 2007

Se vencer o prémio nos EAU, esta não será a primeira vez que Maria da Conceição verá distinguido o seu trabalho solidário. Em 2007, a jovem portuguesa venceu a categoria de "Mulheres Excepcionalmente Inovadoras e Criativas" dos prémios da Rede de Mulheres Inovadoras e Inventoras da União Europeia.

A votação para os prémios Mulher do Ano nos EAU decorre até ao próximo sábado, dia 31 de Outubro. Pode contribuir com o seu voto através deste site .

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